Amor Contumaz
I
Quando digo não te
quero
Só pode ser
brincadeira
Eu não sei mentir a
sério
Nem de outra qualquer
maneira.
II
Quando os arrufos
matreiros
Tomam conta do meu
ser
Há sempre uns mais
desordeiros
Que me dominam sem eu
querer.
III
O amor é uma
obra-prima
Que não conhece
fronteiras
Dá vida ao meu auto
estima
E luz às minhas
cegueiras.
IV
Uma noite de carinho
Seguida de um dia
igual
É o amor em desalinho
Alinhando o que está
mal.
V
Às vezes nas horas
menos
Como caído no chão
Não reajo aos teus
apelos
E torturo o coração.
VI
Sou este ser
imperfeito
Que medita e se refaz
Porque tenho dentro
do peito
Um grande amor, contumaz.
José Chilra
Rosa branca
I
Rosa branca perfumada
Não sei o que a faz corar
Se é o sol ou a geada
Ou o brilho do meu olhar
II
É uma rosinha cativa
Na roseira Alexandria
Rosa branca pé de
silva
Tem folhinhas de
magia
III
Nascida ao pé da
Marcela
E da papoila encarnada
Tem o malmequer com ela
E eu com ela não tenho nada.
IV
Fui colher flores ao
campo
Disse para mim, a brincar
Ó Rosa branca, quero tanto
O que tu não me
queres dar!
V
Tens fragrância de
carinho
Muito longe dos meus ais
Para mim a dor de um espinho
Não é grande mas dói mais!
José Chilra
Estranha contradição
I
Ao meu coração menti
Ao fingir que não a
vi
E dizer que não a amava.
Estranha contradição
A boca dizia não
E o coração
palpitava.
II
Por medo ou
insegurança
Faltou-me audácia e constância
Para lhe pedir namoro.
Onde é que eu tinha a cabeça
Ao sair dali à pressa
Com o coração num choro.
III
Quando ia a meio do
caminho
Arrependido e sozinho
Senti-me triste e
cansado.
Voltei para traz a ver dela
Quando cheguei à
capela
Ela já tinha abalado.
IV
Fui rezar a rezar a
São Braz dos Matos
Para me dar outros sapatos
Estava de amores
perdido.
Quanto mais a procurava
Mais o coração
ralhava
Mais eu estava arrependido.
V
Até que um dia já
tarde
Encontrei essa beldade
Uma formosa donzela.
Estranha contradição
Eu ter pavor à prisão
E prender-me na mão dela.
VI
Resolvi abrir a boca
Com uma voz tremula e rouca
Sugeri o namorico.
Na hora correspondido
Esse amor nunca
esquecido
Deixou-me muito mais rico.
José Chilra
Quem sabe do nosso amor
I
Tu sabes bem, meu
amor
Que é por ti que
canto e choro
Pois digo seja a quem
for
Quanto te amo e
adoro.
II
Além de ti sabe Deus
E sabe a tua mãezinha
Que eu nasci para ser
teu
Tu nasceste para ser
minha.
III
O carteiro das dez e
meia
Foi o primeiro a
saber
Do nosso amor que
norteia
A razão do meu viver.
IV
Sabem dos nossos
arrufos
Meus rivais, desvalorizas
Já dizem os mais
astutos:
Eu beijo o chão que
tu pizas.
V
Do nosso amor tão
bonito
Sabe o sol e sabe a
lua
Sabem ainda, o periquito
E até as pedras da
rua.
VI
Sabe o povo da aldeia
O padre e o sacristão
Já se diz à boca
cheia
Que vamos casar no
Verão.
José Chilra