quarta-feira, 12 de junho de 2013

Franjas de poesia





Amor Contumaz

 
I

Quando digo não te quero

Só pode ser brincadeira

Eu não sei mentir a sério

Nem de outra qualquer maneira.


II

Quando os arrufos matreiros

Tomam conta do meu ser

Há sempre uns mais desordeiros

Que me dominam sem eu querer.
 

III

O amor é uma obra-prima

Que não conhece fronteiras

Dá vida ao meu auto estima

E luz às minhas cegueiras.


IV

Uma noite de carinho

Seguida de um dia igual

É o amor em desalinho

Alinhando o que está mal.
 

V

Às vezes nas horas menos

Como caído no chão

Não reajo aos teus apelos

E torturo o coração.
 

VI

Sou este ser imperfeito

Que medita e se refaz

Porque tenho dentro do peito

Um grande amor, contumaz.

 

José Chilra
 

 




Rosa branca

 
I

Rosa branca perfumada

Não sei o que a faz corar
 
Se é o sol ou a geada

Ou o brilho do meu olhar

II

É uma rosinha cativa
 
Na roseira Alexandria

Rosa branca pé de silva
 
Tem folhinhas de magia

III
Nascida ao pé da Marcela

E da papoila encarnada

Tem o malmequer com ela

E eu com ela não tenho nada.
 
IV

Fui colher flores ao campo

Disse para mim, a brincar

Ó Rosa branca, quero tanto
O que tu não me queres dar!
 
V
Tens fragrância de carinho

Muito longe dos meus ais

Para mim a dor de um espinho

Não é grande mas dói mais!

 

José Chilra
 




Estranha contradição


I

Ao meu coração menti
 
Ao fingir que não a vi

E dizer que não a amava.

Estranha contradição

A boca dizia não

E o coração palpitava.

 
II

Por medo ou insegurança

Faltou-me audácia e constância

Para lhe pedir namoro.

Onde é que eu tinha a cabeça

Ao sair dali à pressa

Com o coração num choro.  

III

Quando ia a meio do caminho

Arrependido e sozinho

Senti-me triste e cansado.

Voltei para traz a ver dela

Quando cheguei à capela

Ela já tinha abalado.  

IV

Fui rezar a rezar a São Braz dos Matos

Para me dar outros sapatos

Estava de amores perdido.

Quanto mais a procurava

Mais o coração ralhava

Mais eu estava arrependido.  

V

Até que um dia já tarde

Encontrei essa beldade

Uma formosa donzela.

Estranha contradição

Eu ter pavor à prisão

E prender-me na mão dela.
 
VI

Resolvi abrir a boca

Com uma voz tremula e rouca

Sugeri o namorico.

 Na hora correspondido

Esse amor nunca esquecido

Deixou-me muito mais rico.
 

José Chilra
 
 

Quem sabe do nosso amor

 
 

I

Tu sabes bem, meu amor

Que é por ti que canto e choro

Pois digo seja a quem for

Quanto te amo e adoro.

 

II

Além de ti sabe Deus

E sabe a tua mãezinha

Que eu nasci para ser teu

Tu nasceste para ser minha.
 

III

O carteiro das dez e meia

Foi o primeiro a saber

Do nosso amor que norteia

A razão do meu viver.
 

IV

Sabem dos nossos arrufos

Meus rivais, desvalorizas

Já dizem os mais astutos:

Eu beijo o chão que tu pizas.

 
V

Do nosso amor tão bonito

Sabe o sol e sabe a lua

Sabem ainda, o periquito

E até as pedras da rua.
 

VI

Sabe o povo da aldeia

O padre e o sacristão

Já se diz à boca cheia

Que vamos casar no Verão.

 

 

José Chilra