sexta-feira, 1 de março de 2013

Nostalgia do poeta

Introdução

Poemas e nostalgia, são palavras e sentimentos muito pessoais, só partilho neste blogue porque bate a saudade e, ao mesmo tempo, é uma forma de homenagear os meus muito queridos. As primeiras quadras são da autoria da minha mãe, aos 87 anos mostra toda  a sua sabedoria e lucidez.




I
No lar do Alandroal
Eu pensei um dia dar o fim
Peço a todos em geral
Que tenham pena de mim.

II
Deixei a minha casinha
Tive muito que pensar
Não posso viver sózinha
Tive que ir viver para o lar.

III
Tive que ir viver para o lar
Ó que tristeza tamanha
Sózinha não posso estar
Morreu a minha companha.

IV
Morreu a minha companha
Deus a tenha em bom lugar
Ó que tristeza tamanha
Ter que ir viver para o lar.


Florinda Chilra


 

Pelas mãos de minha mãe

I
Pelas mãos de minha mãe querida
Em tempos que já lá vão
Subi vários degraus da vida
Por esta escada torcida
Com falta de corrimão.

II
Também foi pela sua mão
Que comi bons cozinhados
Minha mãe tinha o condão
De nunca faltar com o pão
Aos seus filhos adorados.

III
Lavava a roupa no rio
Com água limpa e sabão
Fizesse calor ou frio
Passava a ferro com brio
Com um velho ferro a carvão.

IV
Só com agulha e o dedal
Costurava a roupa em casa
Não era profissional
Tinha esse dom natural
Parecia ter mãos de fada.

V
Fazia rendas, bordados
Trabalhos a pontos cruz
Em alguns tecidos dados
Restaurava os já usados
Do escuro fazia-se luz.

VI
Por ser tão laboriosa
Lembrava-me uma abelhinha
Era bonita e formosa
Já dizia a tia Rosa:
A tua mãe é uma rainha!

VII
Agora que está velhinha
Recorda esses tempos idos
Ainda faz as suas rendinhas
E tece com outras linhas
Dias menos coloridos.

VII
Nas suas mãos tem o terço
Reza a Deus porque é cristã
Eu tenho a mãe que mereço
E um pai que também não esqueço
Nem hoje nem amanhã.


José Chilra


Quem sou eu

I
Que me vê não me conhece
Eu próprio não sei quem sou
Perdi a identidade
Não onda de uma saudade
O meu barco naufragou.

II
Os meus olhos são um rio
O meu peito um mar revolto
Minha vida é um navio
Amarrada por um fio
Junto ao cais do meu desgosto.

III
Os meus braços são abraços
Que ao meu filho não posso dar
Os meus dias são cinzentos
As noites mil tormentos
Tenho sonhos de arrepiar.

 IV
Este meu Eu, questionei
Não posso viver assim
Falta-me o sol dos meus dias
Falta-me a minha alegria
Porque é que partiu sem mim.

V
Perguntei ao Deus Maior
Se sabia quem eu era
Respondeu-me o redentor.
-És filho de um Deus Menor
Tua vida é uma quimera.


José Chilra



 
Tiquetaque da vida

 

I

Tenho um relógio no peito

Que é o meu grito de alerta

Por virtude ou por defeito

Bate a torto e a direito

Quando a saudade aperta.
 

II

No tiquetaque da vida

A balança do amor

Pesa mil horas vividas

Amargas, tristes, sentidas

Sem pesos para a minha dor.


III

O meu relógio quebrou-se

Com a força da corrente

A minha vida afogou-se

Os dias ficaram sem doce

Caiu a noite para sempre.
 

IV

Vivo mais só e carente

Com os braços e mãos abertas

Não me queixo impunemente

Meu coração está doente

Já não bate a horas certas.

 


José Chilra

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