Carta de mãe extremosa

Esta carta foi escrita algures em Porcas de Baixo , no Alentejo. Uma mãe extremosa que escrevia assim ao seu vilho a prestar serviço militar na Bósnia.

A Gosto - Porcas de Báxo

Mê querid filho, nã sê se tás bem se tás mali, eu é que tou pior, ando aqui com uma dori numa nalga e já fui ó dotori, ele diz que sã nervos. Tê pai, tamei foi mas ele nã mostra nervos nenhuns. Só tem um problema na corna e anda a ver mali.


Quem tá munto mali é tê tio Niquita Ranhó, passou a ari por eli, está em estado de cama. Dizem que foi um AV Sei. Tu tia diz quando melhorari inda vai ó sitio mas, cá pra mim, aquilo já nã se endreta!
A semana passada, o sapatero bateu a bota e, o covero, ontem entarrou a mulheri deli.

O tê sobrinho cada vez tá mais esperto, só com três anitos e já chama puta à mãe.A avó é avó Vagina pra cá vagina pra lá.

Tê cunhado por mode a bola, armou uma torada lá no caféi,  brigou com com  Zeca Zarolho e até teve que vir a autoridade.

A tu namorada diz que tem muntas soidades tuas, mas lá na festa,  fartou-se de balhar com o Luisinho Entalado.

O presidente da junta, vai fazer uma adega para dari mais empregos. Tê pai foi o primero a dari o nomi.

Mê filho a nossa casa tá virada ó contrário, andou lá o alvanéu e fechou a janela do tê quarto por mode os mosquitos. Tamei fez a casa de banho e tirou a porta do palhero, a vaca da tu irmã já nã berra tanto.

A porca da tu madrinha pariu seis bácros, um é preto e sai à mãe.

Mê filho nã venhas no Inverno que tá uma grande frialdade e, quando vieres, trás a farda porque a tu rôpa tá bolarenta.

Agora chega de tanta escrevedura.

Bêjos da tu mãe Antónha Meia Lingua